domingo, 2 de dezembro de 2012

PREGUIÇA



"O governo que sujeitasse o povo a contribuir com uma décima parte de seu tempo para o serviço público, seria considerado tirânico.
No entanto, se somarmos o tempo que desperdiçamos por absoluta preguiça ou passamos sem fazer coisa alguma, ao que dissipamos em lazer ou divertimentos, o que equivale a nada, veremos que a ociosidade nos oprime muito mais.
A preguiça causa doenças e encurta sensivelmente a duração da vida.
A preguiça é semelhante à ferrugem e, como tal, corrói mais rápido do que o desgaste causado pelo uso, que limpa e dá brilho à chave.
Se você ama a vida não desperdice o tempo, pois é de tempo que a vida é feita.
Quanto tempo gastamos dormindo mais do que o necessário ?
Esquecemos que a raposa que dorme não apanha galinha e que no túmulo haverá tempo de sobra para dormir.
Se o tempo é o mais valioso de todos os bens, desperdiçá-lo seria a maior das prodigalidades.
Tempo perdido jamais se recupera e o que achamos que dura muito, dura muito pouco.
Por isso, façamos logo o que é preciso, pois com determinação obteremos melhores resultados do que se ficarmos indecisos.
Se com preguiça tudo é difícil, com dinamismo tudo é fácil e quem acorda tarde corre o dia inteiro e mal começa a tratar dos negócios, a noite o surpreende porque a preguiça anda tão devagar que a pobreza depressa a alcança.
Dirija seus negócios para não vir a ser por eles dirigido; o hábito de dormir e acordar cedo atrai saúde, riqueza e sabedoria.
O que significa desejar dias melhores ?
Nós podemos melhorar nossa vida, se fizermos por onde.
Querer é poder e quem vive de esperança morre em jejum.
Nada cai do céu e todo ganho requer sacrifícios.
Por conseguinte, mãos à obra, pois das duas uma : precisamos trabalhar ou porque não temos bens ou porque nossos bens estão sebrecarregados de impostos.
Ter um negócio equivale a ser dono de uma propriedade e ter uma profissão é comparável a possuir uma fonte de renda e prestígio.
É necessário, então, empenhar-se para que o negócio prospere, e exercer a profissão; caso contrário nem o negócio nem a profissão nos permitirão pagar os impostos.
Se trabalharmos, jamais ficaremos na miséria e na casa de um trabalhador a fome espreita mas não ousa entrar, assim como não entrarão nem o oficial de justiça nem a polícia, pois enquanto o trabalho paga as dívidas o desespero só faz o débito aumentar. 
Mesmo que você não tenha encontrado um tesouro nem recebido uma herança de algum parente rico, a atividade é a mãe da sorte, e Deus ajuda quem cedo madruga.
Por isso, lavre a terra com vontade enquanto os preguiçosos dormem, e você terá milho para vender e guardar.
Como não podemos prever os obstáculos que o dia de amanhã poderá trazer, não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje, visto que vale mais o dia de hoje que dois dias amanhã.
Se você trabalhasse para um bom patrão, não ficaria envergonhado se ele chegasse de surpresa e o encontrasse sem nada fazer ?
Da mesma forma, se é você seu chefe, sinta vergonha da própria inércia, porque há muito a ser feito por você mesmo, sua família, pátria e rei.
Esteja de pé ao raiar do dia !
Não deixe o sol olhar para terra e dizer: 'Lá está um preguiçoso que ainda dorme!'
A ferramenta pesa mas alimenta e lembre-se de que gato que não quer molhar as patas não come peixe.
É verdade que há muito a ser feito e talvez lhe faltem forças para tanto; contudo, com persistência e disciplina você alcançará grandes resultados, pois devagar se vai longe e água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Com perseverança e paciência o camundongo rói ao meio uma grossa corda e pequenos golpes derrubam um grande carvalho.
Então um homem não tem direito ao lazer ?
A resposta, meu amigo: 'empregue bem o tempo se quiser merecer o descanso'.
Como não sabemos se estaremos vivos daqui a um minuto, cada minuto é precioso e por isso não deve ser desperdiçado. O homem diligente, ao contrário do preguiçoso, descansa fazendo alguma coisa útil, porque descanso não tem nada a ver com ociosidade.
Uma vida tranquila e uma vida ociosa são duas coisas bem diferentes.
Você pensa que apreguiça é capaz de proporcionar mais bem-estar do que o trabalho ?
Não !
Pois a preguiça é a mãe de todos os vícios.
Tem gente que prefere viver de expedientes, sem ter ocupação fixa, e por isso acaba sem recursos. O trabalho, pelo contrário, gera bem estar, prosperidade e respeitabilidade. Quem busca uma vida de prazeres acaba não encontrando o que procura, pois o prazer corre atrás de quem dele foge.
Ao profissional competente nunca falta cliente.
Entretanto, trabalhar apenas não é o suficiênte, pois é preciso ainda termos constância, determinação e prudência, supervisionando os negócios com nossos próprios olhos, sem confiar excessivamente nos outros.
Nunca vi uma árvore que é transplantada muitas vezes nem família que vive se mudando, crescerem e prosperarem tanto quanto as que permanecem no mesmo lugar.
Três mudanças são piores que um incêndio !
Mantenha sua loja para ser por ela mantido; quem quer faz, quem não quer manda.
O olho do dono faz mais que suas duas mãos e a falta de cuidado causa mais prejuizo do que a falta de saber.
Não vigiar os empregados é o mesmo que deixar-lhes a bolsa aberta e confiar demasiadamente nos outros é a causa de ruína de muita gente; nos negócios deste mundo, os homens são salvos não pela fé, mas pela falta dela e, para termos lucro, precisamos ter cautela; o saber é para o homem estudioso o que é a riqueza para o homem cauteloso, assim como o poder é para o homem seguro de si o que é a fé para o homem virtuoso.
Se você quiser um empregado amável e honesto, contrate a si mesmo!
Ponderação e cuidado até nas mínimas coisas porque às vezes um leve descuido provoca grande dano e, ainda, por falta de um cravo perdeu-se a ferradura; por falta da ferradura, perdeu-se o cavalo e, por falta do cavalo, perdeu-se o cavaleiro, que foi alcançado e morto pelo inimigo.
Tudo isso porque faltou um pouquinho de cuidado com o cravo da ferradura !
Eis o que eu tinha a dizer acerca do esforço constante e da atenção que cada um deve dedicar a seu próprio negócio.
Os sábios aprendem com o erro dos outros e os ignorantes não aprendem nem com os próprios;
felix quem faciunt aliena pericula cautum:
'Feliz daquele que aprende com os erros alheios.'"

(Resumido do opúsculo "O Caminho da Riqueza", de 1758, por Benjamin Franklin)

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